domingo, 3 de janeiro de 2010

O que nao era antes

Acordou sem ar
Era dia de viajar, mas nao queria
E quedou-se duplamente angustiado: Nao queria partir, tampouco o agradava ficar
Queria tao somente nao querer e nisso ser atendido. Ainda que custasse o querer de todos os outros
Que tudo tivesse congelado enquanto dormia, que nao fosse obrigado a decidir e, muito menos, que por ele decidissem
Mas com a mesma facilidade que sacrificaria a vontade dos outros a dele seria, logo mais, sacrificada
Foi quando percebeu que nao tinha escolha. Ainda que nao partisse, nao lhe era permitido ficar.
Se, birrento, se sentasse no chao, encarregaria-se dele o proprio tempo ao mudar, pouco a pouco, tudo o que o cercava
Quisesse ou nao seria transportado dali, ja estava sendo.

Sentiu-se acalentado
Levantou-se, coracao ja mais leve pelo livre-arbitrio roubado
Aprontou-se, arrumou suas coisas e partiu
Era obrigado a viajar, mas o faria com suas proprias pernas
E fez questao de mudar o destino.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Soneto sem virgula

Ter a certeza que o bom espera
Saber não bastar a esperanca
Pensar que o merecedor sempre alcanca
Estando logo junto onde sozinho estivera

Pouco a pouco doma temeroso a besta fera
Pois sentimentos nem todo peito guarda
Lembrais disso enquanto dolorido aguarda
Pensais nisso quando desesperado espera

Não te esqueca porem
De mais que amores nascem os contos
E herois por si so não fazem lendas

Observa e quem sabe entao aprenda
Fazer ser tu que dentre outros tantos
Deixar que teu todo entao entenda

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os que dormem e não sonham, o que querem?
E se querem, por que nao sonham?
Se não sonham, pra que vivem?

Mas quem disse que dormem?
Ainda que deitem, olhos fechados
Voltam cansados, nao dormiram
Voltam tristes

Querem nao querer mais nada,
então apagam

A mesma vida
Que no contraste com os sonhos
Se torna concreta
É negada na falta deles

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Pra Bela ficar feliz

Sentados, lado a lado, dois amantes
Cuja propria condicao ignoravam
Sentados, lado a lado, se encontravam
E, assim, se quedariam alguns instantes.

Quando. notando resistencia persistente
(nenhum ousaria abrir-se antes)
Delegaram as maos, ainda que relutantes
Que dos assuntos do amor tomassem frente

Sentados, mas agora maos se davam
Lado a lado, ignoravam novamente
O infinito que um dar de maos mudava

o infinito, agora ignoravam
Pois perdidos nas maos que se encontravam
Amavam, lado a lado, simplesmente.

domingo, 20 de setembro de 2009

Vejo-te dormir
Tu, por tua vez, somente dormes.
Ainda assim, é com tanta graça que nada fazes…
Passo a mao no teu cabelo, numa vagarosidade caricata
E, quem sabe, a noite nao perceba que passa muito rapido,
E que convinha que parasse um pouco
Inutil, ela passa
Não importa,
Eu fico.

domingo, 23 de agosto de 2009

Suspeite das mãos que se dão. Não há entrega que a do vazio, embrulhado ou não em promessas.

Tema dedos entrelaçados, enganam-se. Ao ver-los, tambem desejará ser enganado.
Observe o ridículo de dar-se as mãos. Essa ideia de um núcleo feito de extremos, mas cercado de nada. Aprenda como mesmo quando unidos criamos centros que se isolam ao fingirem aproximar.

Procure, nas mãos dadas, o abraço. Quando não acha-lo, procure o por quê. Ao não sabê-lo pergunte-se pra quê, então, as mãos que se dão. Encontrará apenas a razão da suspeita. Dar mãos é o jeito complicado de não dar nada.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Minhas possibilidades são infinitas, mas o são dentro de um segmento que diminui a cada segundo. Assim, não há nada que eu não possa ser que eu possa ser e vice-versa. Tenho escolhas limitadas pelo acaso, pelo tempo e por suas antecessoras. Por ser homem não posso ser mulher, com dezenove anos não posso ter dez e acordado às três da manhã não posso ter ido dormir às nove da noite. Qualquer outra combinação, não seria eu.


Não poder ter outro primeiro amor é o que me faz poder ter um, pra começo de conversa. A identidade das coisas está no não ser, e o ser é a sobra de tudo que não se é. E é por isso que cada uma das minhas escolhas vale um infinito, que foi o que eu troquei por elas.