Me surpreendi comendo pipoca. Não qualquer pipoca, até porque da tradicional só gosto da doce. (A salgada gruda no dente e dá sede). Me refiro aquela pipoca vagabunda, come-come, do saco rosa meio transparente. Pois então, me surpreendi comendo aquilo. Insisto em enfatizar minha surpresa porque essa pipoca é ruim demais.
Ainda assim, algo me atrai naquele pedaço de isopor comestível ( será?). Estou certo de que naquele canto da indústria alimentícia aparentemente desconhecido dos órgãos reguladores produz-se mais que “comida”, termo que usarei na falta de denominação mais proxima. A fabrica da pipoquinha come-come vende metáforas.
Tentarei explicar em poucas linhas o que vende esse Willy Wonka brasileiro que é o proprietário de tão valorosa marca. As pipocas come-come são a mais perfeita metáfora da vida. Sim, vida, essa mesmo que estamos a desperdiçar nesse momento. A coisa real.
Ambas, vida e pipoquinha, são mais parecidas do que uma olhada no saco plástico rosa possa transparecer. A pipoquinha, com sua textura isoporesca, é quase um teste de perseverança. Aquilo não tem gosto e se insistimos em mastiga-la, não é por mais que inércia e educação. Também muitas vezes é assim a vida. Sem gosto, sem propósito aparente. Continuamos a viver por inércia, mantemo-nos de pé por educação. As vezes a vida e pipoquinha são difíceis de engolir .
Porém, vez ou outra, dentre as pipoquinhas sem graça encontramos uma que compensa, quem diria? Essa pipoquinha é especial. Na prática, nem pipoquinha é. É açúcar mesmo. Pipoquinhas açucaradas aparecem para os que perseveram e tem fé, quase uma compensaçao cármica `aqueles que engoliram meio quilo de isopor. Semelhante `a pipoquinha é a vida, que vez ou outra tem seus momentos que compensam todo o resto. Também em semelhança ao primeiro caso, esses momentos redentores não são feitos da mesma matéria que os outros.Na prática, mal vida é esse segundo que o céu deixa escapar. O etéreo está para a vida como o açucar para a pipoquinha.
Um minuto de contemplação ou cinquenta centavos. Eis o preço do sentido da vida que se resume em ter fé, simplesmente. Seja no divino, no amor, em si próprio ou na próxima pipoquinha, fé tão somente. Fé nesses momentos construidos de matéria desconhecida, ou de açúcar, que seja. Pode não ser o sentido mais profundo, mas é tudo que se precisa para querermos sempre mais um momento, mais um pacote de pipoquinha come come.
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Só você para achar algum sentido naquele isopor nojento...
ResponderExcluirGuilherme, depois desse texto ratifico minha condição de fã do que você escreve e desse olhar arguto, um tanto metafísico-dialético (eu cedo os direitos sobre a expressão), para essas coisas simples da vida que podem nos suscitar grandes reflexões.
ResponderExcluirParabéns, continue.
para alguém que se abstém de religiosidade, eis um bom texto sobre fé. não que uma tenha a ver com a outra, obviamente, mas no geral e erroneamente são sempre associadas. sempre digo que os ateus são os mais racionais e lógicos. pera, eu nao sou atéia! nem vc... ih, cheios de pobremas nas nossas vidas!
ResponderExcluirNunca comi-comi da pipoquinha... Será que eu nunca vivi realmente?
ResponderExcluirEu tive a oportunidade de desfrutar de grandes momentos ao lado desse cara! Grandes momentos à altura da importância de uma pipoquinha come come!
ResponderExcluirPosso dizer que esse texto expressa a mais pura e sublime essência da vida!
Sem dúvida, pipoquinha come come e vida andam e andarão, sempre, de mãos dadas pela eternidade! Ou quase isso, pq o tempo de degradação natural do isopor é loongo! Aquele abraço meu querido! Belo texto!
acho que quase todo mundo já se submeteu a comer da tal néctar da vida que, como vc disse, não passa de um pedacinho de isopor açucarado... mas certamente ninguém havia tido tamanha delicadesa para descrever dessa maneira a pipoquinha come-come. rs [Tamara}
ResponderExcluirnunca mais comerei a pipoquinha com o mesmo olhar. =) [Dinno]
Nunca comi essa pipoquinha aí, mas se for exatamente como você descreveu - e que visão e descrição, meu caro! - sei bem como é, porque já comi outras pipoquinhas com "textura isoporescas", como você diz. Ou seja, até as coisas ruins da vida mudam, mas continuam a mesma merda! (Putz!) Eu me identifico com as coisas que você escreve.
ResponderExcluirGui, acho que me identifiquei com esse texto. kkkk Tenho comido muitas dessas pipoquinhas no cursinho, mas realmente nunca imaginei tal comparação. =) Você conseguiu transformar algo tão medíocre em um texto muito, muito bom!! Agora, vou me lembrar de vc sempre que comer a tal pipoquinha. kkkk Adorei o blog! ;)
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